quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A visão japonesa do homem

A visão japonesa do homem se baseia no pensamento budista. Apresentamos aqui um de seus aspectos.

No Budismo, é costume dividir os tipos humanos em dez categorias, segundo adiantamento e conteúdos de seu espírito. São elas expressas em linguagem simbólica, como se constituíssem dez planos diferentes de existência.

1) Infernal – a mais baixa das categorias, englobando os que se submergem totalmente em atos contrários à natureza humana, alcançando por conseqüência sofrimentos sem conta.

2) Animal – categoria onde falta todo e qualquer refreamento, etiqueta ou regra de conduta, bem como a consciência. Os indivíduos agem inteiramente levados por seus instintos, sem levar em conta circunstâncias, hora e lugar.

3) Demônios famintos – outra categoria inconsciente, em que os seres se deixam levar por seus desejos, sem conseguir satisfaze-los nunca, agindo como famintos ou sedentos desesperados.

4) Titãs – seres que às vezes conseguem praticar o bem, mas vivem em conflito ideológico e constantemente lutam, de maneira inconsciente.

5) Celeste – plano dos que, embora inconscientemente, agiram conforme a ética e por conseguinte experimentam sensação agradável de viver num paraíso pleno de delícias. Porém, como não há consciência, terminada a energia gerada por suas boas ações, precipitam-se no plano infernal.

6) Humana – categoria onde alegrias e sofrimentos coexistem em partes iguais, e pela primeira vez desperta a consciência. Busca-se o conhecimento da essência da felicidade e das causas do sofrimento; escolhe-se conscientemente o caminho a seguir, consciente e racionalmente. A escolha correta permite dar o primeiro passo na trilha da perfeição humana.

7) Discípulos que ouvem a Lei – aqui, como primeiro passo para a perfeição, o homem aprende as Quatro Nobres Verdades, que esclarecem a natureza do mundo e os métodos que levam à perfeição, segundo o Budismo.

8) Os que discernem sozinhos a Lei – Aqui o homem compreende e pratica a Lei da Originação Condicionada, objeto das contemplações de Buda. Transcende o domínio dos instintos vulgares e age conforme a Lei, sempre de uma maneira racional, sem se deixar possuir pelas paixões e emoções; consegue transcender a vida e a morte, alcançando uma perfeita tranqüilidade de espírito.

9) Bodhisattva – Desenvolve-se espontaneamente a partir do anterior. O indivíduo já está apto a atingir a décima categoria.

10) Búdica – mas faz um voto de não atingi-la enquanto não conseguir instruir todos os seres viventes. Passeia livremente pelas categorias anteriores, empenhando-se na salvação alheia e na plena realização dos ideais búdicos. Incessantemente pratica e prega as Seis Virtudes do Bodhisattva ( Seis Paramitas): Caridade, Moralidade, Paciência, Perseverança, Concentração e Sabedoria. É um praticante do Caminho de Buda e uma encarnação da Misericórdia.

No Japão considera-se que todo o Homem deve viver como um Bodhisattva, para atingir a perfeição. O ideal do Bodhisattva é lembrado nas festas dos equinócios, celebradas no início da primavera e do outono. O dia de equinócio, em que o sol transpõe a linha do Equador, nem quente nem frio, dia e noite de igual duração, ameno e agradável, é destinado a honrar a memória dos antepassados virtuosos, ao passo que os três dias anteriores e os três posteriores são consagrados aos Seis Paramitas. São duas semanas anuais dedicadas à auto-reflexão, ao auto-aprimoramento e ao aprendizado das virtudes beneficiadoras da humanidade. Visam fazer de todo o homem um Bodhisattva, um ser que marcha para a perfeição. São celebradas há 1.500 anos.

Criticam-se os japoneses como exageradamente obsequiosos; isso é fruto das diretrizes de educação no Japão moderno, que esvaziaram o ideal de Bodhisattva de seu espírito, conservando só a forma.

A verdadeira concepção japonesa do Homem é a conscientização e prática do ideal do Bodhisattva, que possibilita o progresso e a coexistência pacífica da humanidade.

Do Blog Sangha Margha

Nenhum comentário: