terça-feira, 24 de junho de 2008

Sobre a meditação, a impermanência, e o agora

A função da prática da meditação é curar e transformar. A meditação, tal como é compreendida na minha tradição do Budismo, ajuda-nos a tornarmo-nos completos, a olhar profundamente para nós mesmos e à nossa volta de forma a realmente ver o que lá está. A energia usada na meditação é atenção plena; olhar profundamente é usar a atenção plena de maneira a iluminar os recessos da nossa mente ou a olhar para o coração das coisas de forma a ver a sua verdadeira natureza. Quando a atenção está presente, a meditação está presente. (..)
Ao olhar profundamente, o praticante de meditação adquire penetração/compreensão (insight). Esta compreensão tem o poder de nos libertar do nosso próprio sofrimento e aprisionamento. No processo da meditação, as cadeias relaxam, os bloqueios internos do sofrimento, tal como o medo, a raiva, o desespero e o ódio são transformados, as relações com os outros seres e a natureza tornam-se mais leves, a liberdade e a alegria instalam-se. Tornamo-nos conscientes do que está dentro e fora de nós; somos renovados, estamos mais presentes na nossa existência quotidiana. Como nos tornamos mais livres, cessamos de agir de forma a magoar os outros, e tornamo-nos capazes de trazer mudanças à nossa volta e ajudar os outros da tornarem-se livres.

Thich Nhat Hanh, The blooming of a Lotus


A impermanência e a natureza transitória da vida são encaradas habitualmente como negativas, algo que nos inspira temor e resistência; mas é precisamente porque tudo está a nascer e morrer continuamente que já estás livre. Mesmo que queiras estar apegado e preso, tal não é possível. Mesmo que tentes agarrar-te à forma como as coisas são e àquilo que possuis, não podes fazê-lo. Não é maravilhoso? Tudo parte a seu tempo; estás livre de todas as coisas, quer o queiras quer não. A maior parte das pessoas temem a perda daquilo a que têm amor e apego mas na verdade a perda traz mais liberdade.

Genpo Merzel Roshi


A verdade da vida não é uma meta a alcançar num determinado momento no futuro; é a realidade do passo dado neste preciso instante. Pensar na realidade como uma linha recta, uma progressão linear do princípio ao fim, de causa a efeito, da ideia à realização, é um erro. A realidade é um círculo infinito, e cada ponto da sua circunferência é ao mesmo tempo o centro, o ponto de partida, e o ponto de chegada.

Hogen Yamahata, On the Open Way

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sábado, 21 de junho de 2008

Consumo no divã

Psicanalista trabalha o peso dos aspectos emocionais nas decisões de consumo

Que razões levam as pessoas a gastar mais do que ganham? Por que compramos coisas que não nos serão úteis? Por que agimos por impulso na hora em que devíamos decidir com a razão? Afinal, por que temos dificuldade em ser consumidores conscientes? Os dilemas e angústias dos indivíduos na sociedade do consumo é o tema da entrevista que a redação do Akatu realizou com a psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, especialista em psicologia do consumo e professora do curso extensão de Psicanálise e Psicologia Econômica, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

AKATU - Quais as razões psicológicas que levam as pessoas a comprar por impulso?

VERA RITA - Numa sociedade voltada para o consumo, o prazer imediato é buscado de maneira incessante. Muitas vezes a realidade é frustrante e as pessoas acreditam que ao comprar um celular de terceira geração, vão encontrar a felicidade. Ao não encontrar a felicidade nas compras, vem uma frustração ainda maior. Para piorar, o endividamento desse indivíduo vai trazer mais angústias, criando um círculo vicioso.

AKATU - Como é possível atingir o equilíbrio entre prazer e realidade?

VERA RITA - É exatamente aí, nesse equilíbrio, que reside o grande desafio. Esse é o foco, é o eixo do trabalho da psicologia econômica: colocar o indivíduo em equilíbrio com a realidade de sua vida. Todo mundo tem aversão ao sentimento de frustração, de perda e de finitude, que bem ou mal é o destino de todo ser humano. Sempre há uma carência interna difícil de escapar e alguns tentam resolver isso por meio de compras. As pessoas que são mais suscetíveis à compulsão, em geral, vivem uma angústia interna muito grande. Às vezes a pessoa pode ficar mais de uma hora em conflito se deve ou não comprar algo. Isso está muito longe de se transformar em felicidade. É preciso encontrar outras formas de lidar com a angústia.

AKATU - E os apelos de consumo? A sedução da publicidade?

VERA RITA - Vivemos numa sociedade que pode ser definida como infantilizada. Estamos todos infantilizados. A cultura do endividamento, do crédito, do consumo, apela para sentimentos infantis. A publicidade não precisa fazer tanta força para nos convencer. Nós queremos ser enganados. Mesmo que no fundo todos saibamos que os momentos de satisfação são provisórios. É o modelo de comportamento do bebê que chora de fome e, se o leite demora a vir, começa a chupar o dedo. Com isso ele 'engana', durante algum tempo, o desconforto causado pela fome. A ação motora, nesse caso, tem o objetivo de 'descarregar' a tensão, mas não obtém leite realmente. Essa medida tem prazo de validade, e o bebê acabará por abandoná-la por se mostrar infrutífera para matar sua fome de fato. Mas enquanto durar, ele poderá se enganar, e se manter na ilusão de que solucionou o problema, modificou a situação.

AKATU – E hoje vivemos também a urgência de mudanças em busca da sustentabilidade...

VERA RITA – As pessoas precisam entender que os nossos recursos são finitos. Mas é muito difícil falar de questões ambientais, de sustentabilidade, para aqueles que nem mesmo conseguem cuidar de suas finanças pessoais. Em palestras que faço sobre psicologia econômica ainda tem muita gente que estranha a relação entre finanças e sustentabilidade.

AKATU – Quais são os principais conselhos para que uma pessoa adote comportamentos mais equilibrados nas suas relações de consumo?

VERA RITA - Vai ser preciso abrir mão da satisfação imediata. Mas só se consegue fazer isso após realizar um processo de autoconhecimento que permita fazer mudanças e tomar decisões que contribuam para uma vida mais equilibrada, psicologicamente e economicamente falando.

Livros publicados pela autora:

Psicologia Econômica – Estudo do Comportamento Econômico e da Tomada de Decisão ((Editora Campus/Elsevier, Coleção Expo Money, 2008)

Decisões Econômicas – Você já parou para pensar? (Editora Saraiva, 2007),

Link para o trabalho da autora:

www.verarita.psc.br
Fonte: Instituto Akatu

domingo, 15 de junho de 2008

Perplexidades

a parte mais efêmera
de mim
é esta consciência de que existo

e todo o existir consiste nisto

é estranho!
e mais estranho
ainda
me é sabê-lo

e saber
que esta consciência dura menos
que um fio de cabelo

e mais estranho ainda
que sabê-lo
é que
enquanto dura me é dado
o infinito universo constelado
de quatrilhões e quatrilhões de estrelas
sendo que umas poucas delas
posso vê-las
fulgindo no presente do passado

(Ferreira Gullar)
Zemanta Pixie

sábado, 14 de junho de 2008

Princípios da meditação


O tratamento dos pensamentos

Os principiantes, sem saber com exatidão o que é a meditação, criam a expectativa de uma calma perfeita, totalmente livre dos pensamentos. Temem sua vinda, e quando estes surgem desolam-se por sua incapacidade de meditar. Temer os pensamentos, irritar-se ou inquietar-se com seu aparecimento, crer que a falta de pensamentos é uma boa coisa em si, são erros que conduzem a um estado de frustração e culpa inúteis.

A mente de um não-meditador, de um principiante e de um meditador confirmado é atravessada por pensamentos. Mas, a maneira de abordá-los varia de modo considerável de um para o outro.

Alguém que não pratica a meditação é, em sua relação com os pensamentos, semelhante a um cego, o rosto voltado para uma estrada longínqua. O cego é incapaz de ver se automóveis passam ou não na estrada. Da mesma forma, a pessoa comum, embora experimentando um sentimento vago de desconforto e mal estar interiores, não está, em absoluto, consciente da torrente de pensamentos que, no entanto, escoa sem interrupção.

Ao começarmos a meditar, descobrimos os olhos para ver, mas gostaríamos que não passasse nenhum automóvel na estrada. Vem um primeiro automóvel, nossa atenção decepciona-se. Um segundo, nova decepção. Um terceiro, irritamo-nos, etc. A esperança ingênua de uma estrada vazia é incessantemente enganada. Estamos ao mesmo tempo conscientes e infelizes com a sucessão dos veículos. Cada automóvel que passa é uma nova dificuldade. Revoltamo-nos contra um estado de coisas inevitável. Quando encaramos a meditação como um espaço desprovido de pensamentos cada pensamento que se apresenta contradiz com evidência esse esquema preconcebido; estamos em situação de fracasso quase permanente.

Quando, ao contrário, compreendemos bem em que consiste a meditação, vemos desfilar os automóveis, mas sem revolta nem recusa, sem ter decidido que a estrada deveria estar vazia. Não esperamos a ausência de veículos, assim como não nos apavoramos com sua presença. Os automóveis passam e os deixamos passar; eles não são nem nocivos, nem benéficos. Se os pensamentos elevam-se, deixamos que passem naturalmente, sem nos ligarmos a eles nem condenando-os; se eles não se elevam, não encontramos aí objeto de satisfação particular. Uma abordagem sã dos pensamentos condiciona uma boa meditação.


As pessoas que compreendem mal a meditação crêem que todos os pensamentos devem cessar. Não podemos, de fato, estabelecer-nos num estado sem pensamentos. O fruto da meditação não é a ausência de pensamentos, mas o fato de que os pensamentos cessam de ser nocivos para nós. De inimigos, os pensamentos tornam-se amigos. Uma meditação ruim vem em geral da negligência das práticas preparatórias, mas também, estas tendo sido realizadas, da má compreensão da maneira justa de colocar a mente.

As pessoas ordinárias têm a mente perpetuamente distraída, dispersa. Quando meditamos, por outro lado, o maior impedimento vem das produções mentais sobreacrescidas, dos comentários sobre si mesmo e das pré-concepções. A meditação autêntica evita tanto a distração como os acréscimos mentais.

(Bokar Rinpoche. Meditação: Conselhos aos Principiantes. Traduzido por
Plínio Augusto Coelho; revisão técnica de Antonio Carlos da R. Xavier. Brasília:
ShiSil, 1997
Retirado do site Dharmanet

quarta-feira, 11 de junho de 2008

São Francisco, meu bodhisatva preferido

Deus é Deus

Por São Francisco de Assis


Vendo a obra, vejo Deus;
sentindo Deus, sou Amor.
Oh!... quantas coisas se escondem de mim, de vós, de todos, filhos do Criador.
Sinto-me nada, ante a grandeza do universo; sinto-me verme, pelas belezas que desconhece o meu coração.

Deus tem filhos no mar, nas estrelas, no ar;
Deus tem filhos nas árvores e na terra.
Deus tem filhos até nas guerras.

Que beleza a função da natureza!...
Vejo a luz surgir no escuro,
vejo a vida perfeita nos monturos;
vejo o céu nas águas do mar,
vejo e sinto o Amor no amar.

Quando descanso, a natureza trabalha;
quando durmo, a natureza trabalha;
quando trabalho, a natureza trabalha;
Que eu sou?... Nada, diante desta batalha.

Deus é Deus dos justos,
Deus é Deus dos párias,
Deus é Deus dos que viajam,
Deus é Deus dos que ficam em casa!...
Deus é Deus das sombras,
Deus é Deus da luz,
Deus é Deus das trevas,
Deus é Deus de Jesus!...

Quando estou cansado, Deus está ocupado;
quando estou reclamando, Deus esta obrando.
Quando blasfemo, Deus esta entendendo;
quando tenho ódio, Deus esta amando.
Quando estou triste, Deus esta sorrindo.

Deus é Sabedoria e eu estou sonhando!...
Que beleza a natureza!...
Que beleza a profundeza da existência, e do existir.
Eu não compreendo, mas luto para me corrigir, porém, em frações do tempo, logo quero ajuntar e Deus repartir.
Quero colher, quero usurpar; e Deus passa por mim a semear!...
Luto de novo, mas ainda não sei lutar;
penso na disciplina, mas não me deixo disciplinar.
Avanço... caio! torno a avançar.
E Deus me ouve, passa novamente pôr mim, olha para meus olhos, sente meu coração. E fala baixinho em meu ouvido: vem, vou te ensinar a amar.
Deus se retira!... sinto sua ausência!... Peço clemência! Mesmo assim, Deus não se esquece de mim.
Manda um anjo em meu encalço, num carro fulgurante de luz.
E de braços abertos, caio por terra; pensei que era o Cristo de Deus, que era Jesus!
E o cortejo dos céus entra em mim, em cântico de louvor.
Abre o meu coração, deixando dentro dele um tesouro de luz!...
O tesouro da dor.

Alguma dúvida de que se trata de um ser iluminado? Não sabemos ao certo, mas temos muitas dessas lanternas entre nós. Muitos ficaram conhecidos no mundo todo como Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, Chico Xavier, Padmasambhava, mas existem muitos anônimos entre nós. Precisamos muito acreditar nisso. Acreditando em Deus, Buda, Maomé, Krishna, não importa. Isso é iluminação.
São Francisco é meu "preferido" pela sua história de desapego, compaixão por todos os seres e por sua poesia.


Zemanta Pixie

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Livro traz fábulas budistas para as crianças e ensina a meditar

da Folha Online

Ler histórias para os filhos na hora de dormir é uma ótima oportunidade para estar com as crianças. Melhor ainda quando são histórias que ajudam a acalmar e ensinam valores importantes para a formação dos pequenos.

O livro "Noites Encantadas", da Publifolha, apresenta uma seqüência mágica de histórias que auxiliam seu filho a desenvolver a confiança, a tranqüilidade e a concentração.

Com vinte histórias ricamente ilustradas e inspiradas em fábulas budistas, o volume ajuda as crianças a relaxar, estimula o aumento da autoconfiança e incentiva seu filho a seguir o caminho do bem.

* Leia fábula "Os Dois Patos e a Tartaruga"

Escrito pelo professor de budismo Dharmachari Nagaraja, o livro traz narrativas que abordam uma série de valores importantes para apresentar aos filhos como pensar antes de falar, respeitar os outros como gostaria de ser respeitado, perdoar e ser honesto. Com isso, contribuem para o desenvolvimento da imaginação e incentivam as crianças a serem tolerantes e terem mais empatia em relação às outras pessoas.

"Noites Encantadas" conta ainda com uma seção de meditação passo a passo especialmente adaptada para os pequenos, que irá ajudá-los a ter um sono tranqüilo e a crescer mais seguros e felizes.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Casa mínima

Você já parou para pensar há quanto tempo não visita o quartinho da bagunça em sua casa? Ou quantos meses sua piscina não vê a sua sunga? A discussão sobre o espaço que o homem realmente necessita para viver inquieta arquitetos, urbanistas e filósofos há tempos. E, ainda hoje, o estilo de vida mais minimalista continua fazendo adeptos. Em 1997, o americano George Johnson conheceu a minúscula residência que o construtor Jay Shafer fez para si e, alguns anos depois, deram início ao Small House Society. O site é o principal difusor do movimento que defende que com uma casa menor e adaptada às suas necessidades, as pessoas têm uma rotina mais balanceada. Sobra tempo e dinheiro para outras áreas da vida, como família, casamento, educação, corpo e trabalho. Por abrir mão de espaços ociosos, mas que custam muito em manutenção, elas ainda evitam o desperdício de recursos do planeta. Conforto deixa de ser espaço para virar localização: assim, a praça arborizada do bairro pode ser o seu jardim, o café da esquina o lugar de encontro com os amigos e o banco da rua a sua sala de leitura. Como diz Jay Shafer em seu site:, Quando o mundo todo é a sua sala de estar, uma pequena casa parece suficiente.

Visite os sites que discutem a importância do espaço que você ocupa no planeta.

Site sobre o Small House Society, movimento que preza o viver bem em espaços menores
http://www.resourcesforlife.com/small-house-society

Site com histórias de pessoas que moram em casas pequenas
http://www.tumbleweedhouses.com/houses.htm

Site da obra americana Little House on a Small Planet
http://www.littlehouseonasmallplanet.com/index2.html

Da revista "Vida Simples"/junho/2008