sábado, 21 de junho de 2008

Consumo no divã

Psicanalista trabalha o peso dos aspectos emocionais nas decisões de consumo

Que razões levam as pessoas a gastar mais do que ganham? Por que compramos coisas que não nos serão úteis? Por que agimos por impulso na hora em que devíamos decidir com a razão? Afinal, por que temos dificuldade em ser consumidores conscientes? Os dilemas e angústias dos indivíduos na sociedade do consumo é o tema da entrevista que a redação do Akatu realizou com a psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, especialista em psicologia do consumo e professora do curso extensão de Psicanálise e Psicologia Econômica, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

AKATU - Quais as razões psicológicas que levam as pessoas a comprar por impulso?

VERA RITA - Numa sociedade voltada para o consumo, o prazer imediato é buscado de maneira incessante. Muitas vezes a realidade é frustrante e as pessoas acreditam que ao comprar um celular de terceira geração, vão encontrar a felicidade. Ao não encontrar a felicidade nas compras, vem uma frustração ainda maior. Para piorar, o endividamento desse indivíduo vai trazer mais angústias, criando um círculo vicioso.

AKATU - Como é possível atingir o equilíbrio entre prazer e realidade?

VERA RITA - É exatamente aí, nesse equilíbrio, que reside o grande desafio. Esse é o foco, é o eixo do trabalho da psicologia econômica: colocar o indivíduo em equilíbrio com a realidade de sua vida. Todo mundo tem aversão ao sentimento de frustração, de perda e de finitude, que bem ou mal é o destino de todo ser humano. Sempre há uma carência interna difícil de escapar e alguns tentam resolver isso por meio de compras. As pessoas que são mais suscetíveis à compulsão, em geral, vivem uma angústia interna muito grande. Às vezes a pessoa pode ficar mais de uma hora em conflito se deve ou não comprar algo. Isso está muito longe de se transformar em felicidade. É preciso encontrar outras formas de lidar com a angústia.

AKATU - E os apelos de consumo? A sedução da publicidade?

VERA RITA - Vivemos numa sociedade que pode ser definida como infantilizada. Estamos todos infantilizados. A cultura do endividamento, do crédito, do consumo, apela para sentimentos infantis. A publicidade não precisa fazer tanta força para nos convencer. Nós queremos ser enganados. Mesmo que no fundo todos saibamos que os momentos de satisfação são provisórios. É o modelo de comportamento do bebê que chora de fome e, se o leite demora a vir, começa a chupar o dedo. Com isso ele 'engana', durante algum tempo, o desconforto causado pela fome. A ação motora, nesse caso, tem o objetivo de 'descarregar' a tensão, mas não obtém leite realmente. Essa medida tem prazo de validade, e o bebê acabará por abandoná-la por se mostrar infrutífera para matar sua fome de fato. Mas enquanto durar, ele poderá se enganar, e se manter na ilusão de que solucionou o problema, modificou a situação.

AKATU – E hoje vivemos também a urgência de mudanças em busca da sustentabilidade...

VERA RITA – As pessoas precisam entender que os nossos recursos são finitos. Mas é muito difícil falar de questões ambientais, de sustentabilidade, para aqueles que nem mesmo conseguem cuidar de suas finanças pessoais. Em palestras que faço sobre psicologia econômica ainda tem muita gente que estranha a relação entre finanças e sustentabilidade.

AKATU – Quais são os principais conselhos para que uma pessoa adote comportamentos mais equilibrados nas suas relações de consumo?

VERA RITA - Vai ser preciso abrir mão da satisfação imediata. Mas só se consegue fazer isso após realizar um processo de autoconhecimento que permita fazer mudanças e tomar decisões que contribuam para uma vida mais equilibrada, psicologicamente e economicamente falando.

Livros publicados pela autora:

Psicologia Econômica – Estudo do Comportamento Econômico e da Tomada de Decisão ((Editora Campus/Elsevier, Coleção Expo Money, 2008)

Decisões Econômicas – Você já parou para pensar? (Editora Saraiva, 2007),

Link para o trabalho da autora:

www.verarita.psc.br
Fonte: Instituto Akatu

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