sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Prática na vida cotidiana

"As práticas espirituais só adquirem seu sentido na vida cotidiana. A relação com nossos pais, esposa, marido, filhos e colegas de trabalho, e também com os seres em todos os planos da existência, material e sutil, isto é o termômetro da prática. Um sinal grave é o desinteresse e a falta de compaixão. O isolamento e a prática formal são artificialidades – só se justificam pela remoção de obstáculos que eventualmente proporcionem. Todas as construções espirituais, ainda que meritórias, são esponja, água e sabão, ou seja, dispensáveis ao final.

S.S.XIV Dalai Lama diz que todos os seres fazem prática espiritual, mesmo que não saibam, uma vez que se movem buscando tanto a felicidade como a liberdade frente ao sofrimento, e lembra que as religiões preenchem sua função justo por estarem voltadas a auxiliar os seres nisto.

Quando desejamos ter uma casa na praia, estamos também buscando felicidade. Ainda que nos falte clareza quanto a isto, esta é a motivação verdadeira, o elemento mental que cria no nosso desejo quanto à casa. Para buscar a felicidade, a casa de praia é uma boa opção?

Passar lá o fim de semana é ótimo, não há mácula nisso, mas quando chega o domingo, acaba. A casa da praia nos traz um tipo de felicidade que necessita um certo esforço e trabalho para acontecer, e o benefício é curto. No budismo, sentimos que trabalhos longos e felicidades curtas não são muito interessantes, buscamos produzir felicidade de longo alcance. Alguém, por exemplo, que supere internamente o orgulho, imediatamente melhorará sua relação com a família e com os amigos, nessa vida e nas que se seguirão e todos ao redor se beneficiam.

Há variados tipos de felicidade, por exemplo, a vaga em algum emprego. Neste caso nossa felicidade implica na frustração dos outros (que não conseguirão), além do mais, tão logo comecemos a trabalhar, já surge a insatisfação e começamos a pensar nos feriados ou então quanto tempo falta para nossa aposentadoria... Esse benefício de conseguir um "bom emprego" é muito diferente do de superar um dos cinco venenos – orgulho, inveja e avareza, desejo e apego, ignorância, raiva. Veja bem, quando superamos a avareza, neste exato instante nos tornamos ricos. Descobrimos uma fonte de satisfação permanente, e tudo que brota dessa fonte e que podemos oferecer aos outros é motivo de alegria para nós. Quem dá alguma coisa nunca perde essa alegria, já quem recebe, pode até esquecer.

Felicidade e motivação no budismo

A prática budista foca cuidadosamente a motivação. Recitar mantras ou entrar num templo sem a motivação correta, envelhece a religião. A falha é nossa. Por que não olhamos as práticas com o olho correto, não há benefícios, e nos tornamos surdos às palavras de sabedoria. Por outro lado, a motivação de trazer benefícios aos outros tem o poder de transformar qualquer ação em prática espiritual. É muito comum que as mães não tenham tempo para praticar formalmente, mas com a motivação de ajudar seus filhos e sustentar a casa, tudo que elas fazem se transforma em prática espiritual."


Lama Padma Samten

Leia o texto na íntegra



Reblog this post [with Zemanta]

Nenhum comentário: