segunda-feira, 14 de abril de 2008

Justiça cega

Ás vezes o ser humano me assusta. Assistindo às reportagens sobre o caso da menina Isabella, o que me chamou mais a atenção foi como o povo se mobiliza na frente das delegacias, das casas dos suspeitos aos gritos de "assassino!" quase ao ponto de um linchamento. Isso porque ainda não se descobriu quem foi o assassino e não existem réus confessos, o que pioraria muito a situação.

Aí eu fico pensando o que levaria o cidadão comum a se deslocar do conforto do seu lar para participar de tal "evento"? Eu sei que é um crime que nos tem indignado pela brutalidade, pelo absurdo, por tal violência contra uma menina tão indefesa. Mas até onde a nossa indignação nos dá o direito de nos colocarmos como verdadeiros juizes do "olho por olho, dente por dente"? Não consigo atinar porque o mesmo cidadão não se desbanca do seu lar para protestar quando acontecem esses escândalos políticos que tiram de todos nós a qualidade da saúde pública(que também acaba matando pessoas), nos tira as oportunidades, o transporte de qualidade, etc. Pois parece que ninguém percebe que a corrupção nos tira o dinheiro e os direitos que deveríamos ter para a nossa qualidade de vida como cidadãos que pagam os impostos que são "surrupiados" pelo suborno e a má gestão da coisa pública. Mas enfim, essa é outra história...

Lembro-me de um caso que aconteceu num hospital público de Taubaté (na época foi nacionalmente divulgado), em que uma mãe foi acusada de ter colocado cocaína na mamadeira da filhinha que estava internada. Resumindo ela foi presa, espancada pelas presas que estavam indignadas, perdeu a visão de um dos olhos nesses espancamentos, e mais tarde se descobriu que não era nada daquilo (parece que foi um medicamento que deram à menina, não me lembro), enfim ela era inocente...
Fora aquele caso da Escola Base, em que os donos foram acusados de pedofilia, execrados socialmente e também eram inocentes.
Não estou aqui dizendo com isso que o pai e a madrasta de Isabella sejam inocentes, eu não sei, a população ainda não sabe. Se forem culpados, que cumpram suas penas (nem vamos discutir se as penas aqui no Brasil são justas ou não), mas sei que não serei eu ou outra pessoa qualquer que vai "justiçar" aquela menina.

Ás vezes parece que o ser humano adora esses casos cruéis, não sei se por curiosidade, sadismo, ou pelo fato de se sentir alguém mais importante diante de "gente tão perversa”... não consigo atinar...
Só sei que me assusto muito. Sempre tive medo de multidões por esse lado "desembestado". Você nunca sabe o que uma multidão enfurecida ou amedrontada pode fazer...É a anulação da razão em nome dos sentimentos mais primitivos...

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