Thimphu, a capital do Butão, estará em festa nos dias 6, 7 e 8 de novembro. O jovem Jigme Khesar Namgyel Wangchuck, de 28 anos, receberá de seu pai a coroa real e se tornará o Quinto Rei do Butão. Essa transição de poder, com data recomendada pelos três principais astrólogos do país, é mais um marco da transformação que acontece no reino encravado nos vales do Himalaia. Quem cede a coroa é o Quarto Rei, Jigme Singye Wangchuck. Ele abdicou do trono em dezembro de 2006, em favor de seu filho mais velho, mesmo estando em excelente estado de saúde e com apenas 50 anos de idade. Sua atitude surpreendeu o país, pois Jigme Singye foi e continua sendo querido – quase venerado – por uma maioria esmagadora da população.
Jigme Singye ainda estipulou, na nova Constituição proposta por ele, que os próximos reis deverão obrigatoriamente renunciar aos 65 anos. Também convenceu seus súditos a eleger, por voto direto, em março de 2008, uma Assembléia Nacional e aceitar que o líder do partido majoritário fosse o primeiro-ministro. No ano passado, o rei visitou cidades e vilarejos dos 20 dzongkhags (distritos) para persuadir a população tradicional – ainda atada ao sistema monárquico – a votar, pois essas reformas seriam positivas. Seu recado: só existe um futuro para o reino, a democracia. Uma postura de desapego ao poder é tão raramente registrada que o monarca foi considerado pela revista Time, em 2006, como uma das cem pessoas mais influentes do mundo. Uma das explicações para essa atitude é a importância do budismo no Butão.
O plano do Quarto Rei era bem maior do que continuar regendo: transformar o poder absoluto do rei em uma monarquia constitucional. E incluir a felicidade como meta principal de sua nação. Inspirado pelos princípios budistas da compaixão e da harmonia, Jigme Singye cunhou, nos anos 80, o conceito de Felicidade Interna Bruta. A FIB pretende ser uma medida alternativa ao conhecido Produto Interno Bruto e ir mais além do total de serviços e mercadorias produzidos por um país.
Ao propor um conceito que sublinhava o bem-estar do indivíduo e da sociedade, as palavras de Jigme Singye cruzaram os picos do Himalaia e os oceanos do globo. Há algumas décadas, pensadores e economistas alternativos vêm considerando o tradicional PIB como uma medição limitada e, em alguns casos, errônea, pois considera elementos negativos da sociedade como positivos. Como o PIB avalia apenas o movimento do dinheiro, se metade dos carros de uma cidade caísse num abismo, as revendedoras de veículos, os fabricantes de peças automotivas ou as oficinas mecânicas aumentariam suas vendas – e o PIB subiria. Se um país destruísse suas florestas para transformá-las integralmente em produtos básicos, o PIB cresceria (embora o país tivesse perdido seu capital natural).
Medir valores intangíveis como a felicidade, porém, é uma tarefa complexa. Até porque cada pessoa a entende de forma distinta. Segundo o Plano Qüinqüenal do Butão, a FIB assenta-se sobre quatro pilares: desenvolvimento socioeconômico sustentável e eqüitativo, conservação ambiental, promoção do patrimônio cultural e boa governança. Para o Butão, não basta analisar o velho PIB – talvez porque ele seja um dos mais baixos do planeta, com apenas US$ 3,36 bilhões. O governo butanês adotou a FIB, criou uma coleção de novos indicadores socioambientais e passou a usá-los como um componente estratégico da política de planejamento nacional. Em discurso na ONU no final de setembro, o primeiro-ministro do Butão, Jigmi Thinley, defendeu a FIB: “É responsabilidade do Estado criar um ambiente que permita aos cidadãos buscar a felicidade”.
Leia matéria completa no site da Revista Época
Nenhum comentário:
Postar um comentário